Muralha de Adriano
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3,5 e 6 × 1,8 e 6 m |
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A Muralha de Adriano (em latim: Vallum Aelium) é uma fortificação construída principalmente em pedra e madeira,[1] no norte da Inglaterra, aproximadamente na atual fronteira com a Escócia. Foi assim denominada em homenagem ao imperador romano Públio Élio Trajano Adriano, que ordenou a sua construção. É a primeira de duas fortificações construídas na Grã-Bretanha, a segunda sendo a Muralha de Antonino, menos conhecida, porque seus vestígios são menos evidentes hoje.
Iniciada em 122 e concluída em 126, constitui-se na mais extensa estrutura deste tipo construída na história do Império Romano.
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]O Império Romano encontrava-se em expansão no século II, com as novas conquistas de Trajano e anexações das províncias da Dácia e da Mesopotâmia, mas começavam a surgir indícios da crise.[2] Logo o imperador Adriano (que governou entre 117 e 138) compreendeu que manter a expansão em todas as direções do Império era inviável. Conhecendo as ameaças na fronteira da Britânia, optou por manter o que já havia sido conquistado. Assim, determinou que se iniciasse a construção de uma muralha, estrutura defensiva com a função de prevenir as surtidas militares das tribos que habitavam a Escócia - os Pictos e os Escotos (denominados de Caledônios pelos romanos) -, e assinalar o limite ocidental dos domínios do Império.
Para o historiador André Luiz Leme, o maior problema na política exterior desta época estaria na contradição de uma expansão imperialista constante versus a manutenção e consolidação do império dentro do limes. Isso explicaria o motivo de Adriano adotar uma política mais defensiva e tentar reorganizar seu território.[3]
Estudiosos também discordam sobre o quanto era uma ameaça real a terra pouco povoada do norte da Britânia (Escócia), e se houve qualquer vantagem econômica na defesa e guarnecimento de uma linha fixa defensiva como a muralha, em vez da conquista e anexação do território.[4] Segundo o historiador grego Apiano, a Britânia teve muito pouca relevância econômica para o Império.[5] Outra explicação possível para a construção da muralha é o grau de controle que ela teria fornecido sobre a imigração e o contrabando. Com torres de vigia apenas a uma curta distância patrulhando legionários, Roma teria sido capaz de manter o controle da entrada e saída de nativos e cidadãos romanos, além de cobrar taxas alfandegárias e verificar as atividades de contrabando.[4]
Outro ponto de vista é que a muralha separava simbolicamente o mundo civilizado (romano) do mundo "bárbaro", demonstrando assim a soberania e o poder romano.[6]
Construção
[editar | editar código-fonte]Originalmente a muralha de Adriano se estendia por cerca de 80 milhas romanas, equivalentes a 73,5 milhas (cerca de 118 quilômetros), desde o rio Tyne até ao Oeste da Cúmbria. A construção foi feita pelos próprios soldados das legiões romanas: cada "centúria" era obrigada a levantar a sua parte da muralha.
A muralha foi erguida sobre a terra, em aparelho maciço de pedra e turfa, com 4,5 metros de altura por 2,5 metros de largura. O seu topo era percorrido por uma estrada de 1 metro de largura, com o fim de facilitar as comunicações e os transportes. A cada distância determinada havia uma torre de observação, e a cada distância maior existiam quartéis para as tropas de guarnição, tal como no modelo sistemático que os romanos consolidaram para as suas fronteiras.
Muitas estradas e fortificações, que em diversos casos se tornaram cidades, foram construídas baseadas na rota desta muralha, acentuando a importância da muralha e beneficiando o contato entre diversos pontos do território.
Preservação
[editar | editar código-fonte]Após a morte de Adriano, no ano de 138, o novo imperador, Antonino Pio, abandonou a muralha, deixando-a em um papel de apoio, e começou a construir uma nova muralha chamada de Muralha de Antonino, cerca de 160 km (99 milhas) ao norte, mais fortificada do que a anterior. Antonino não foi capaz de conquistar as tribos do norte. Então, seu sucessor Marco Aurélio abandonou a Muralha de Antonino e reocupou a Muralha de Adriano como a principal barreira defensiva, em 164. A muralha permaneceu ocupada por tropas romanas até que estas se retiraram da Grã-Bretanha no início do século V.
No início do século V, com as invasões bárbaras, o declínio econômico e os golpes militares, os romanos perderam o domínio na Grã-Bretanha. Com o tempo a muralha foi abandonada e caiu em ruínas. Ao longo dos séculos, suas pedras e outros materiais foram reutilizados em outros edifícios próximos.
História posterior
[editar | editar código-fonte]Grande parte da muralha desapareceu. As seções ao longo dela foram usadas para a construção de estradas no século XVIII.[7] A preservação de muito do que resta pode ser creditado a John Clayton, um advogado que se tornou secretário municipal de Newcastle em 1830. Após uma visita a Chesters (o forte romano de Cliturno), ele se interessou pela magnitude e história da construção e resolveu preservá-la. Para evitar que os agricultores da região tomassem as pedras da muralha, começou a comprar alguns dos terrenos em que partes da muralha ainda estavam de pé.
Em 1834, adquiriu a propriedade em torno de Steel Rigg. Após algum tempo, passou a ter controle das terras de Brunton até Cawfields, trecho que inclui os sítios de Chesters, Carrawburgh, Housesteads e Vindolanda. Clayton começou os trabalhos de escavação no forte em Cliturnum e em Housesteads. Com a posse de diversas fazendas, conseguiu melhorar a terra e o gado, e com o fluxo de caixa ampliado, investiu em trabalhos de restauração.
Operários trabalharam para restaurar partes dos muros. O melhor exemplo do Muro de Clayton está em Housesteads. Após a morte de Clayton, a propriedade ficou para seus parentes e logo foi perdida, devido a dívidas de jogo. Por fim, o "National Trust" da Inglaterra começou o processo de aquisição do terreno.
Patrimônio Mundial
[editar | editar código-fonte]Em 1987, a Muralha de Adriano foi declarada como Patrimônio Mundial pela UNESCO. O English Heritage declarou que a considera o monumento mais importante construído pelos romanos na Britânia ("the most important monument built by the Romans in Britain").[8]
Turismo
[editar | editar código-fonte]A partir da declaração da UNESCO, as regiões onde há resquícios da muralha investiram no turismo. Diversos websites ingleses contam parte da história da muralha e explicam as melhores opções para se visitar o monumento. Parte do passeio pode ser feita caminhando ao longo do Hadrian's Wall Path ("Caminho da Muralha de Adriano").
Fortes
[editar | editar código-fonte]Galeria de imagens
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Seções da Muralha de Adriano ao longo da rota. Parte da construção foi desmantelada para ser reutilizada em outros projetos.
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Sycamore Gap (the "Robin Hood Tree")[9]
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Os restos do forte em Housesteads.
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Leahill 51B é um típico exemplo de várias torres construídas na muralha.
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Muralha de Adriano voltada para o leste em direção a Crag Lough.
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Os restos de Castle Nick, Milecastle 39, perto de Steel Rigg, entre Housesteads e o Once Brewed (Visitor Centre for the Northumberland National Park).
Ver também
[editar | editar código-fonte]- ↑ «BBC – History – Hadrian's Wall Gallery»
- ↑ Alföldy, 1989
- ↑ Luiz Leme, André. (2011). «Contribuições da numismática para o estudo da Roma Antiga: As estratégias políticas do Imperador Adriano (76 – 138)» (PDF). Londrina, PR
- ↑ a b Everitt, 2009.
- ↑ Alföldy, 1989.
- ↑ Milazzo, Bernardo Luiz Martins. (2008). «Imperialismo e Romanização: Britânia Romana e Camulodunum.» (PDF). Rio de Janeiro. p. 9-14. Consultado em 7 de novembro de 2011. Arquivado do original (PDF) em 16 de maio de 2011
- ↑ Hadrian's Wall. «English Lakes»
- ↑ «English Heritage». Consultado em 10 de novembro de 2011. Arquivado do original em 22 de julho de 2004
- ↑ Seção da muralha localmente conhecida como "A Árvore de Robin Hood", porque foi cenário do filme de 1991, Robin Hood: Prince of Thieves.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- ALFÖLDI, Géza. A História Social de Roma. Lisboa: Editora Presença, 1989.
- EVERITT, Anthony. Hadrian and the Triumph of Rome. New York: Random House, Inc, 2009. ISBN 0-8129-7814-5
- GUARINELLO, Norberto Luiz. Ordem, Integração e Fronteiras no Império Romano. Um Ensaio. Mare Nostrum, v. 1, p. 113-127, 2010.
- HORNBLOWER, S.; SPAWFORTH, A. (eds.) The Oxford Classical Dictionary. 3rd. ed. rev., Oxford: Oxford University Press, 2003.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- UNESCO - Frontiers of the Roman Empire
- News on the Wall path[ligação inativa]
- English Lakes
- iRomans
- Adriano na Encyclopædia Britannica
A Muralha de Adriano está incluída no sítio "Fronteiras do Império Romano", Património Mundial da UNESCO. |