Etemenanqui
Etemenanqui (em sumério: 𒂍𒋼𒀭𒆠; romaniz.: É.TEMEN.AN.KI, Etemenanki; lit. "templo da fundação do Céu e da Terra") era o zigurate dedicado ao deus Marduque na cidade de Babilónia. Originalmente uma torre com sete andares, alegadamente com 91 metros de altura, atualmente apenas dele restam vestígios das suas fundações. É comum considerar-se que possivelmente inspirou a história bíblica da Torre de Babel.[2][3]
Construção
[editar | editar código-fonte]Não se conhece a época exata da construção original do Etemenanqui. Há uma teoria não provada que afirma que ele remonta ao 2.º milénio a.C.. Segundo o historiador Andrew R. George, o seu construtor pode ter reinado no século XIV, XII, XI ou IX a.C.mas ao mesmo tempo refere que não há razões para duvidar que o zigurate de Babilónia mencionado num trecho do poema épico “Epopeia da Criação” (Enūma eliš) escrito em assírio médio possa ser o Etemenanqui — o assírio médio foi usado na segunda metade do 2.º milénio a.C. e o zigurate mencionado no poema é descrito como ziqqurrat apsî elite ("zigurate superior de Apsu").[4]
A cidade de Babilónia foi destruída em 689 a.C. pelo rei assírio Senaqueribe, que clamou ter destruído o Etemenanki. A cidade foi depois reconstruída por Nabopolasar (c. r. 626–605 a.C.) e pelo seu filho Nabucodonosor II (r. 604–562 a.C.). A reconstrução durou 88 anos e o principal monumento erigido foi o grande templo de Marduque (Esagila), ao qual estava associado o Etemenanki, o qual foi reconstruído durante o reinado de Nabucodonosor II. A crer numa tábua escrita em cuneiforme encontrada em Uruque, o zigurate tinha 91 metros de altura, sete andares e no cimo havia um santuário. No entanto, aquela altura é considerada fantasiosa e as estimativas mais recentes apontam para cerca de 60 m.[5]
Descrições
[editar | editar código-fonte]Numa inscrição real neobabilónica de Nabucodonosor II presente numa estela de Babilónia,[6] alegadamente encontrada pelo arqueólogo Robert Koldewey em 1917 de autenticidade incerta[nt 1] Essa estela, conhecida como "Estela da Torre de Babel", foi partida em três pedaços na Antiguidade, dois dos quais fazem atualmente parte da coleção Schøyen, tem a representação mais antiga que se conhece do Etemenanki[7] e nela pode ler-se: «Etemenanki[nt 2] Zikkurat Babibli [Zigurate de Babilónia] eu fiz, a maravilha do povo do mundo, levantei o seu cimo até ao céu, fiz portas para as entradas, e cobri-o com betume e tijolos.» O Etemenanki é representado em baixo relevo, mostrando o seus altos primeiros andares com com lanços de escadas duplos, mais cinco andares em degrau e o templo que coroava a estrutura. A planta do piso térreo também é mostrada, com as paredes exteriores com contrafortes e as câmaras interiores rodeando a cela central.[6]
O Etemenanki é também descrito na tábua em cuneiforme de Uruque já referida, datada de 229 a.C. atualmente no Museu do Louvre de Paris, que é uma cópia de um texto mais antigo. Nele lê-se que a torre tinha 91 metros de altura e uma base quadrada com 91 m de lado.[carece de fontes] A estrutura de adobe foi identificada nas escavações de Robert Koldewey, que também descobriram grandes escadarias no lado sul do edifício, onde um portão triplo o ligava ao Esagila. No lado oriental havia um portão maior que dava para a "Via Processional", uma rua sagrada cuja reconstituição se pode admirar no Museu de Pérgamo de Berlim e cujo elemento mais célebre é a Porta de Istar.
Em 440 a.C., Heródoto escreveu:
As muralhas exteriores são a principal defesa da cidade. Dentro delas há outra cerca de muralhas, quase tão resistentes como as outras, mas mais estreitas. No centro de uma das divisões da cidade ergue-se o palácio real, cercado por uma forte e alta muralha; no centro de outra divisão da cidade ergue-se ainda hoje o templo de Zeus Belus, um quadrado com dois estádios (cerca de 400 metros) de lado, com portões de bronze. No centro deste recinto sagrado foi construída uma torre quadrada maciça com 200 metros de lado; por cima desta torre ergue-se outra, e sobre esta segunda outra ainda, e assim sucessivamente até completar oito. O acesso ao cimo das torres é feito por uma escadaria exterior em caracol, com um local de descanso a meio, com cadeiras para repouso, onde aqueles que sobem e descem se sentam e descansam. Na última torre há um grande santuário; e nele encontra-se um grande e bem guarnecido leito, com uma mesa de ouro a seu lado. Não há imagens no santuário e ninguém ali passa a noite, exceto uma mulher local, escolhida entre todas as mulheres pelo deus, como dizem os caldeus, que são sacerdotes desse deus.»[8]
É provável que esta torre corresponda ao Etemenanqui. Acredita-se que "Zeus Belus" se refere ao deus acádio Bel, cujo nome foi helenizado por Heródoto para Zeus Belus. É provável que corresponda ao Etemenanqui.
Demolição final
[editar | editar código-fonte]Em 331 a.C., Alexandre, o Grande conquistou a Babilónia e mandou reparar o Etemenanqui. Quando regressou à cidade em 323 a.C., o rei macedónio percebeu que não tinham sido feitos quaisquer progressos e ordenou aos seu exército que todo o edifício fosse demolido para preparar a sua reconstrução final.[9][10] No entanto, Alexandre morreu nesse mesmo ano e a reconstrução nunca chegou a concretizar-se.[11]
As “Crónicas babilónicas” e os “Diários astronómicos babilónicos” registam várias tentativas de reconstrução do Etemenanqui, as quais foram sempre precedidas pela remoção dos restos do zigurate original. A “Crónica da ruína do Esagila” menciona que o príncipe herdeiro selêucida Antíoco I (324–261 a.C.) decidiu reconstruí-lo, mas enfureceu-se após ter sofrido uma queda e ordenou aos seus condutores de elefantes que destruíssem o que restava do edifício.[12] Não há quaisquer referências da Antiguidade ao Esagila posteriores a esta.[carece de fontes]
Notas
[editar | editar código-fonte]- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Etemenanki», especificamente desta versão.
- ↑ Robert Johann Koldewey foi um célebre arqueólogo alemão que escavou intensamente as ruínas de Babilónia entre 1899 e 1917. Ele identificou o Etemenanki em novembro de 1900. As vicissitudes dessas escavações, durante as quais enormes quantidades de detritos que cobriam as ruínas foram movidas para longe das suas localizações originais e foram escavados poços e túneis, foram sumarizadas na obra “Das Hauptheiligtum des Marduk in Babylon, Esagila und Etemenanki”, de Friedrich Wetzel e F. H. Weissbach, publicada em Leipzig em 1938. A monografia mais recente sobre o Etemenanki é da autoria de HansJörg Schmid.[1]
- ↑ "A casa, a fundação do Céu e da Terra".
- ↑ a b Schmid 1995.
- ↑ Harris 2002, pp. 50–51.
- ↑ Streck 2006.
- ↑ George 2005–2006.
- ↑ André-Salvini 2009, pp. 114-177.
- ↑ a b «MS 2063 – Tower of Babel stele» (em inglês). The Schoyen Collection. www.schoyencollection.com. Consultado em 6 de fevereiro de 2016. Cópia arquivada em 20 de abril de 2015
- ↑ Lorenzi, Rossella (27 de dezembro de 2011). «Ancient Texts Part of Earliest Known Documents» (em inglês). news.discovery.com. Consultado em 6 de fevereiro de 2016. Cópia arquivada em 4 de outubro de 2015
- ↑ Heródoto, Histórias, Livro I, Clio, 181 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
- ↑ Diodoro Sículo, Biblioteca Histórica, Livro II, 9.9 [ael/fr][en]
- ↑ Estrabão, Geografia, Livro XVI, Capítulo 1, 5 [fr] [en] [en] [en]
- ↑ Van der Spek 2003.
- ↑ «Ruin of Esagila chronicle (BCHP 6)» (em inglês). www.livius.org. Consultado em 6 de fevereiro de 2016
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- André-Salvini, Béatrice (2009), Babylone, ISBN 9782130609964, Que sais-je ? (em francês), Paris: Presses universitaires de France, consultado em 28 de dezembro de 2015
- George, Andrew R. (2005–2006), «The Tower of Babel: archaeology, history and cuneiform texts» (PDF), Archiv für Orientforschung (em inglês), 51: 75-95, consultado em 5 de fevereiro de 2016
- Harris, Stephen L. (2002), Understanding the Bible, ISBN 9780767429160 (em inglês) 6.ª ed. , McGraw-Hill, consultado em 6 de fevereiro de 2016
- Schmid, Hansjörg (1995), «Der Tempelturm Etemenanki in Babylon», ISBN 9783805316101, Mainz: P. von Zabern, Baghdader Forschungen, ISSN 0939-0022 (em alemão), 17
- Streck, Michael P. (2006), «Die Stadt, an deren Freuden man nicht satt wird», Katja Kohlhammer, Damals, ISSN 0011-5908 (em alemão), volume especial: 11–28
- Van der Spek, R. J. (2003), «Darius III, Alexander the Great and Babylonian scholarship», Leida, Achaemenid History (em inglês), XIII: 289-346