Alberto Henschel
Alberto Henschel | |
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Os fotógrafos Alberto Henschel (à direita) e Constantino Barza, em 1870. | |
Nascimento | 13 de junho de 1827 Berlim, Alemanha |
Morte | 30 de junho de 1882 (55 anos) Rio de Janeiro, RJ,[a] Império do Brasil |
Nacionalidade | alemão brasileiro |
Ocupação | |
Cargo | Photographo da Casa Imperial |
Alberto Henschel (Berlim, 13 de junho de 1827[1] — Rio de Janeiro,[a] 30 de junho de 1882[2]) foi um fotógrafo teuto-brasileiro, considerado o mais diligente empresário da fotografia no Brasil do século XIX,[3] com escritórios em Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo,[4] Henschel foi também responsável pela vinda de outros fotógrafos profissionais ao país, como o seu compatriota Karl Ernest Papf — com quem trabalharia mais tarde — e seu filho, Jorge Henrique Papf,[3] que sucederia ao pai no ramo da fotografia.[5]
Henschel ficou conhecido por produzir belas imagens do Rio de Janeiro como fotógrafo paisagista[1][6] e por ser um excelente retratista,[7] o que lhe rendeu o título de Photographo da Casa Imperial,[1] habilitando-o a retratar o cotidiano da monarquia brasileira durante o Segundo Reinado, inclusive fotografando o imperador Dom Pedro II[8] e sua família.[9] Esse título valorizaria muito suas fotos, inclusive no preço.[10]
Mas, certamente, sua principal contribuição à história da fotografia no Brasil foi o registro fotográfico de todos os extratos sociais do Brasil oitocentista: retratos, geralmente no padrão carte-de-visite, foram tirados da nobreza, dos ricos comerciantes, da classe média e dos negros, tanto livres como escravos,[2] em um período ainda anterior à lei Áurea.
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]Logo quando os primeiros mapas-múndi que mostravam o Brasil foram impressos, na época renascentista de Albrecht Dürer, o país-continente recém-descoberto despertou o interesse da Alemanha.[3] Um dos principais fatores de atração que o Brasil exercia para com os alemães é decorrente das empolgantes narrativas e ilustrações[11] a respeito dos índios, das paisagens exóticas, das riquezas de animais selvagens e novas espécies de plantas,[3] relatadas primeiramente nas obras fantásticas de Hans Staden, seguido por aventureiros e cientistas como Johann Baptist Emanuel Pohl, autor de Viagem no Interior do Brasil. Empreendida nos Anos de 1817 a 1821 e Publicada por Ordem de Sua Majestade o Imperador da Áustria Francisco Primeiro,[12] em que descreve sua viagem pelo país, com observações entusiásticas e elogiosas, acompanhadas de luxuriantes ilustrações.[11] Sobre o Rio de Janeiro, Pohl escreveria:
“ | Se algum ponto do Novo Mundo merece, pela sua situação e condições naturais, tornar-se um dia teatro de grandes acontecimentos, um foco de civilização e cultura, um empório do comércio mundial, é, a meu ver, o Rio de Janeiro. Não posso, aqui, reprimir esta observação. De bom grado paira a fantasia sobre o futuro de tão encantador país, que tem um presente pouco desenvolvido e, por assim dizer, não tem passado | ” |
— Johann Emmanuel Pohl[13].
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Certamente essas narrativas e ilustrações constituíram um dos principais fatores de atração para os fotógrafos alemães oitocentistas que se transfeririam para o Brasil, como Revert Henrique Klumb, Augusto Stahl, Karl Ernest Papf e Alberto Henschel.[11]
Vida
[editar | editar código-fonte]Na Alemanha
[editar | editar código-fonte]Não há registro da vida pessoal e profissional de Alberto Henschel na Alemanha, nem das razões que o teriam levado a emigrar para o Brasil.[1] Sabe-se apenas que era filho de Moritz e Helene Henschel.[1] Moritz e seus irmãos August, Friedrich e Wilhelm, de origem judaica, chegaram em Berlim por volta de 1806, tendo se notabilizado como gravuristas e assinado suas obras como Irmãos Henschel.[1]
Supõe-se que Alberto Henschel conheceu o também fotógrafo Francisco Benque ainda na Alemanha, com quem teria uma bem-sucedida, porém efêmera, sociedade no Brasil.[14]
No Brasil
[editar | editar código-fonte]Década de 1861
[editar | editar código-fonte]Henschel desembarcou no Recife em maio de 1866, junto com o também alemão Karl Heinrich Gutzlaff, com quem associou-se para criar um estúdio fotográfico na rua do Imperador, número 38.[1] Inicialmente denominado Alberto Henschel & Cia, o estúdio passou a chamar-se Photographia Allemã, mudando-se em seguida para novo endereço, no largo da Matriz de Santo Antônio, número 2.[4] Pelo fato de ter montado seu negócio logo que chegou ao Brasil, presume-se que Alberto já fosse um experiente fotógrafo e tencionasse engajar-se no promissor negócio da fotografia em um mercado ainda pouco explorado.[1]
Em 1867, Henschel dissociou-se de Gutzlaff e voltou à Alemanha, onde atualizou sua técnica e adquiriu novos equipamentos para o seu ateliê de fotografia.[1] Retornou ao Brasil no mesmo ano, abrindo outro estabelecimento com a mesma razão social na cidade de Salvador, na rua da Piedade, número 16.[4]
Abrindo três estabelecimentos em apenas dois anos, Henschel já era considerado o mais ousado e atilado empresário da fotografia no Brasil oitocentista.[15]
No fim dos anos 1860, as casas de Recife e Salvador já produziam retratos de pessoas de origem africana, escravas e livres, com a diferença de retratá-las à vontade e com dignidade, como indivíduos e não como objetos.[16]
Década de 1870
[editar | editar código-fonte]Em 1870, Henschel abriu outra filial de seu ateliê, desta vez no Rio de Janeiro, na rua dos Ourives (atual rua Miguel Couto, número 40).[4] Foi no Rio, capital do Império, que começaria sua próspera parceria com Francisco Benque. Com o nome de Henschel & Benque, os dois especializaram-se na produção e comercialização de retratos e paisagens, além das fotopinturas feitas por Karl Ernest Papf.[16] Não há registro datando quando a sociedade com Benque desfez-se, mas é provável que a sociedade tenha perdurado até 1880.[4]
Pela qualidade de seu trabalho e pelo sucesso que fizera na Corte, Henschel foi agraciado com o título de Photographo da Casa Imperial, em 7 de Setembro de 1874, juntamente com Benque.[4] O historiador fotográfico Gilberto Ferrez descreve a qualidade e importância de Henschel da seguinte maneira:
“ | Henschel fotografou o Rio e seus arredores [...]. Fez paisagens, mas antes de tudo era exímio retratista. Não há quase nenhum álbum de família em que não figurem retratos de avós tirados por Alberto Henschel. | ” |
— Gilberto Ferrez[7].
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Henschel participou de várias exposições fotográficas, destacando-se na exposição da Academia Imperial de Belas Artes em 1872 e 1875,[4] pela qual recebeu a Medalha de Ouro na primeira edição.[16] Também participou da IV Exposição Nacional e da Exposição Universal de Viena, na Áustria, na qual obteve a Medalha de Mérito.[4]
Década de 1880
[editar | editar código-fonte]Em 1 de fevereiro de 1882[b], Alberto inaugurou mais um estabelecimento, desta vez na capital da província de São Paulo,[15] com a denominação de Photographia Imperial, porque o nome Photographia Allemã já era utilizado pelo ateliê do fotógrafo Carlos Hoenen desde 1875.[17] Sua chegada a São Paulo foi vista com muita importância, pois, além de ser detentor do prestigioso título de Photographo da Casa Imperial, ele vinha direto da Corte. O jornal A Província de São Paulo, ao descrever nos mínimos detalhes o novo ateliê em sua edição do dia da inauguração, demonstrou o entusiasmo com que Henschel foi recebido pelos paulistas.[15]
Henschel morreria no mesmo ano, apenas alguns meses após estabelecer-se em São Paulo. Entretanto, suas empresas, sob o comando de outros empresários, continuariam estrategicamente utilizando seu nome ainda por vários anos, tendo em vista o grande prestígio que a marca "Henschel" adquirira.[16]
Técnica
[editar | editar código-fonte]Henschel sempre se manteve atualizado com as últimas novidades técnicas do mercado fotográfico.[16] Quando o padrão estético de fotografia carte-de-visite começou a ganhar o mundo, Henschel já dominava a técnica, a qual utilizou em grande escala em seus estabelecimentos.[16]
Seus estúdios possuíam equipamentos de última geração, adequados para o retrato instantâneo de crianças que, irrequietas, eram a dor de cabeça dos fotógrafos.[16] Em um anúncio presente no Novo Almanach de São Paulo para o Anno de 1883, Henschel propagandeava:
“ | Este estabelecimento acaba de receber da Europa os NEGATIVOS para o novo processo de PHOTOGRAPHIAS INSTANTANEAS, que tanto sucesso tem produzido ali./ Por meio deste CHICHETS se pode obter um retrato mais perfeito da mais inquieta criança, de pessoas nervosas, etc./ O público é convidado a vir examinar no estabelecimento alguns retratos obtidos pelo novo processo.[17] | ” |
O novo processo a que o anúncio se referia era o uso de placas secas de gelatina transparente, utilizadas como camada adesiva para a fixação dos sais de prata sobre o papel.[18]
- ↑ a b c d e f g h i ERMAKOFF 2004, p. 174.
- ↑ a b ERMAKOFF 2004, p. 175.
- ↑ a b c d VASQUEZ 2000, p. 11.
- ↑ a b c d e f g h VASQUEZ 2000, p. 109.
- ↑ ERMAKOFF 2004, p. 255.
- ↑ CCBA - Centro Cultural Brasil-Alemanha. «Conheça os fotógrafos, Alberto Henschel». Consultado em 29 de Março de 2008. Arquivado do original em 24 de junho de 2007
- ↑ a b FERREZ 1953, p. 82.
- ↑ VASQUEZ 2000, p. 114.
- ↑ VASQUEZ 2000, p. 115.
- ↑ MUAZE, Mariana de Aguiar Ferreira (2006). «Os guardados da viscondessa: fotografia e memória na coleção Ribeiro de Avellar». Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material. 14 (2). São Paulo. ISSN 0101-4714
- ↑ a b c VASQUEZ 2000, p. 13.
- ↑ VASQUEZ 2000, p. 12.
- ↑ POHL, Johann Emmanuel (1951). Viagem no Interior do Brasil. Empreendida nos Anos de 1817 a 1821 e Publicada por Ordem de Sua Majestade o Imperador da Áustria Francisco Primeiro. 1. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura. 74 páginas
- ↑ Schaukal, Barbara (2001). «Sebastianutti & Benque – Five Photographers. Four Generations. Three Continents» (PDF). Donau-Uni. Consultado em 15 de maio de 2024. Arquivado do original (PDF) em 4 de outubro de 2008
- ↑ a b c VASQUEZ 2000, p. 110.
- ↑ a b c d e f g «Albert Henschel: Comentário Crítico». Itaú Cultural. Consultado em 11 de Abril de 2008
- ↑ a b VASQUEZ 2000, p. 111.
- ↑ VASQUEZ 2000, p. 194.
- Bibliografia
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- VASQUEZ, Pedro Karp (2000). Fotógrafos Alemães no Brasil do Século XIX. São Paulo: Metalivros. 204 páginas. ISBN 85-85371-28-5
- FERREZ, Gilberto (1953). «A fotografia no Brasil». Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (10). Rio de Janeiro
- Bibliografia adicional
- CHIARELLI, Tadeu (2006). Para ter algum merecimento. Victor Meirelles e a fotografia. São Paulo: Boletim nº 1 do Grupo de Estudos do Centro de Pesquisa em Arte e Fotografia da ECA/USP. 86 páginas
- FABRIS, Annateresa (org.) (1991). Fotografia. Usos e funções no século XIX. 3. São Paulo: Edusp. 229 páginas
- FERREZ, Gilberto (1985). A Fotografia no Brasil: 1840-1900. 1 2ª ed. Rio de Janeiro: Funarte. 248 páginas
- FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J. (1976). Pioneer photographers of Brazil: 1840 - 1920. Nova Iorque: The Center for Inter-American Relations. 143 páginas
- FREYRE, Gilberto; PONCE DE LEON, Fernando; VASQUEZ, Pedro Karp (1983). O retrato brasileiro. Fotografias da Coleção Francisco Rodrigues, 1840-1920. Rio de Janeiro: Funarte. Fundação Joaquim Nabuco. 100 páginas
- KOSSOY, Boris (2002). Dicionário histórico-fotográfico brasileiro. Fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles. 408 páginas
- KOSSOY, Boris (1980). Origens e expansão da fotografia no Brasil: século XIX. Rio de Janeiro: Funarte. 128 páginas
- KOSSOY, Boris; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci (1994). O Olhar europeu: o negro na iconografia brasileira do século XIX. São Paulo: Edusp. 240 páginas
- LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira; AMARAL, Aracy; BERNARDET, Jean-Claude (1983). Retratos quase inocentes. São Paulo: [s.n.] 198 páginas
- SCARVADA, Carlos Luís Brown (trad.) (2005). Retratos modernos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional. 240 páginas
- TURAZZI, Maria Inez (1995). Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo. 1839/1889. 4. Rio de Janeiro: Funarte. 309 páginas
- VASQUEZ, Pedro Karp (2002). A Fotografia no Império. 4. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 72 páginas
- VASQUEZ, Pedro Karp (1985). Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho. 243 páginas
- VASQUEZ, Pedro Karp (1995). Mestres da fotografia no Brasil: Coleção Gilberto Ferrez. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil. 272 páginas
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Fotos de Alberto Henschel em domínio público»
- «Fotos do ateliê Alberto Henschel & Co. em domínio público»
- «Biografia de Alberto Henschel»