Joesley Batista
Joesley Batista (Formosa, 5 de fevereiro de 1972) é um empresário brasileiro, um dos donos e responsável pelo processo de expansão e internacionalização da JBS, uma das principais empresas do agronegócio no Brasil, onde foi presidente do conselho de administração.[2][3] É irmão de Wesley Batista e de Júnior Friboi, filhos do patriarca Zé Mineiro, fundador do Grupo JBS.
Joesley Batista | |
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Nome completo | Joesley Mendonça Batista |
Nascimento | 5 de fevereiro de 1972 (52 anos) Formosa, GO |
Nacionalidade | brasileiro |
Fortuna | US$ 3,5 bilhões (agosto de 2019)[1] |
Progenitores | Pai: José Batista Sobrinho (Zé Mineiro) |
Parentesco | Júnior Friboi (irmão) Wesley Batista (irmão) |
Cônjuge | Ticiana Villas Boas (c. 2012) |
Ocupação | Empresário |
Joesley foi listado em 2016 entre os setenta maiores bilionários do Brasil pela revista Forbes.[4] Em junho do ano seguinte, foi afastado do cargo no grupo por cinco anos, como contrapartida a um acordo de leniência assinado com o Ministério Público Federal, por delações premiadas no âmbito da Operação Lava Jato. O acordo também previu, entre outras medidas, o pagamento de R$ 8 bilhões como ressarcimento a instituições do governo federal prejudicadas por atos criminosos, envolvendo pagamento de propinas, cometidos por ele e outros executivos da JBS.[5]
Infância
editarJoesley é um dos seis filhos de Flora Mendonça Batista e José Batista Sobrinho, conhecido como Zé Mineiro, dono de um açougue em Anápolis, Goiás, fundado em 1953. No início, a empresa tinha o nome de Casa de Carnes Mineira, anos depois transferiu-se para o canteiro de obras da construção de Brasília no final da década de 1950, tendo o nome mudado para Friboi, que décadas depois se tornaria uma das maiores empresas mundiais do setor alimentício. O comércio de Zé Mineiro expandiu, fornecendo carne para as empreiteiras da obra e depois durante o desenvolvimento da capital federal na década de 1960.
Nenhum dos filhos de José Batista Sobrinho concluiu o ensino médio, iniciando a trabalhar para as empresas da família antes de terminar os estudos formais. [6][7]
A primeira grande aquisição do pai foi feita em 1969, antes de Joesley Batista nascer. O frigorífico Matadouro Industrial de Formosa estava para fechar em razão do descumprimento de normas sanitárias - o que diminuía o seu preço - mas a aquisição foi feita, mesmo assim, por que seu pai havia viajado para o Rio de Janeiro e combinado colocar "só uns tijolinhos" com a fiscalização responsável [8], uma história que sugere ter ocorrido pagamento de propina para que as regras não fossem efetivamente observadas.
Carreira
editarSeu irmão mais velho, João Batista Júnior foi nomeado Presidente da Friboi com 20 anos de idade. Seu outro irmão Wesley Batista foi enviado com 17 anos por seus pais para administrar a empresa da família de sabão Flora. O sabão era feito a partir do sebo do boi, e a empresa foi nomeada para homenagear sua mãe [9].
Mesmo com indústrias na família, Joesley teve seu primeiro emprego com doze anos na área administrativa de uma fabricante de autopeças [10].
Com dezesseis anos, para que seu irmão Wesley não fosse sobrecarregado com outras funções, Joesley passou a trabalhar para a família e foi administrar a fábrica de sabão Flora [11]. Quando contava com vinte e um anos, a família arrendou seu terceiro frigorífico, de maior porte, em Anápolis. Assim, seu irmão Wesley, um pouco mais velho, foi tocar esse novo empreendimento e Joesley passou a administrar o frigorífico de Luziânia, deixando a fábrica de sabão nas mãos de um encarregado. O negócio crescia rapidamente, em condições que posteriormente foram tidas como suspeitas. Adquiriram grandes empresas do setor e no final dos anos 1990 já controlavam grandes frigoríficos brasileiros, como o goiano Anglo e o paulista Bordon. A primeira aquisição internacional foi a do frigorífico argentino Swift Armour.[6][7] em 2005, feita com um empréstimo que causou prejuízo superior a 68 milhões de reais ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), alvo de denúncia na Operação Bullish.
Em 2007 o grupo passou a se chamar JBS, abrindo seu capital. Entre 2007 e 2009, o grupo conseguiu mais investimentos e créditos bilionários do BNDES, da ordem de 8,1 bilhões de reais em compras de ações e 3,9 bilhões de reais em empréstimos, somas jamais investidas em outra empresa privada brasileira. A J&F Investimentos, holding da família Batista, é dona, além da JBS, da Eldorado Brasil (celulose) e já deteve o controle da empresa dona da marca Havaianas, a Alpargatas (calçados). Em 2009, adquiriu americana Pilgrim's Pride (carne de frango) e associou-se ao grupo brasileira Bertin (alimentos, hotelaria e outros), investindo também no ramo de lácteos, ração animal e biodiesel. Em 2012, a JBS já era a maior produtora de frangos do mundo, fornecendo carnes para grandes redes, como a McDonald's. Seu faturamento em 2016 foi de 170 bilhões de reais, com subsidiárias em vinte países e 237 mil funcionários.[6][7]
Operação Lava Jato
editarEm julho de 2016, o empresário foi alvo de investigações na Operação Sépsis, um dos desdobramentos da Operação Lava Jato, por pagamento de propinas pela JBS ao deputado cassado e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, para liberação de recursos do FI-FGTS.[12]
Além dessa operação, a empresa JBS e Joesley Batista foram investigados em pelo menos outras quatro operações: Operação Greenfield, Operação Cui Bono?, Operação Carne Fraca, Operação Bullish [13].
Delação Premiada
editarEm 17 de maio de 2017, o Jornal O Globo divulgou que Joesley, em delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato, entregou uma gravação feita na noite de 7 de março de 2017, de uma conversa reservada que teve com o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu. Segundo o delator, a gravação confirmava a compra do silêncio de Cunha, que estava preso, por meio da entrega de propina à sua família. Na conversa, Joesley Batista havia informado ao Presidente que estava "segurando" dois juízes e tinha "conseguido" um procurador dentro da força-tarefa da Operação Greenfield para lhe passar informações. Ele também pediu ao Presidente que facilitasse as conversas com Henrique Meirelles, que era "importantíssimo" ter alguém "ponta firme" no Conselho Administrativo de Defesa Econômica e na Comissão de Valores Mobiliários, instituições que passavam por troca de comando na época. Temer indicou Rocha Loures como alguém de sua "estrita confiança", e segundo o depoimento de Joesley Batista, a gravação de áudio não mostra, mas ele teria feito um sinal com os dedos passando pelo outro que significa grana - ou seja, que poderia tratar de propinas com ele[14]. Uma séria crise política se instalou no governo depois desta divulgação.[15]
Em 28 de abril de 2017, em uma ação combinada com a Polícia Federal, e autorizada pela Justiça, o então deputado federal Rocha Loures foi flagrado correndo para um táxi com uma mala contendo R$ 500.000,00 em propina. [16]
Outra gravação realizada em 24 de março de 2017, de cerca de 30 minutos, feita no hotel Unique, de São Paulo, comprova que o então Presidente Nacional do PSDB Aécio Neves lhe pediu 2 milhões de reais. O encontro com o empresário foi marcado pela irmã do então Senador, Andréa Neves. O diálogo parece sugerir que o político mandaria matar alguém, talvez o seu próprio primo Frederico Pacheco de Medeiros, e ex-coordenador de campanha, que terminou pegando a proprina. Essa interpretação foi alvo de inúmeros debates. O dinheiro foi entregue por Ricardo Saud, então Diretor de Relações Institucionais da JBS, ao primo do Senador, em 4 parcelas de R$ 500.000,00. [17].
Joesley também contou em sua delação que os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff receberam 80 milhões de dólares em contas distintas no exterior.[18] Posteriormente, o Procurador da República responsável pela apuração concluiu que a delação não possuía elementos capazes de comprovar essa parte da delação, já que a conta no exterior estava no nome do próprio Joesley Batista [19]
Uma semana antes da divulgação da gravação, Joesley foi com a família para Nova Iorque, a bordo de seu jatinho particular, tendo despachado para Miami, dois dias antes, seu iate de luxo com capacidade para 25 passageiros. Joesley é casado com a apresentadora de televisão Ticiana Villas Boas que, em 23 de maio, pediu afastamento da emissora em que trabalhava, do grupo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).[20] [21]
Joesley Day
editarNo dia seguinte à divulgação da gravação, em 17 de maio de 2017, o pânico nos investidores tomou conta da Bolsa de Valores de São Paulo, que depois de um Circuit breaker fechou com uma queda acentuada de 8,8%, enquanto o dólar subiu 8% nesse mesmo dia [22].
Entre os operadores da bolsa de valores brasileira, o dia ficou conhecido como Joesley Day. Curiosamente, os papéis da empresa JBS não foram os mais afetados no dia - a mercado já havia de alguma forma precificado a crise que envolvia os controladores da empresa, e eles fecharam uma queda ligeiramente superior à média: 9,64%. A queda de expectativa do mercado foi mais intensa com relação ao governo federal - já que o governo de Michel Temer alimentava muitas esperanças no mercado financeiro e uma grave crise política não estava à vista. A empresa do índice que mais caiu no dia foi a Eletrobrás (20,97%), também merecendo destaque a queda nas ações do Banco do Brasil (19,91%). A perda de valor dessas empresas estatais, de certa forma, refletiu a opinião dos investidores acerca do elevado aumento do risco de investir em empresas controladas por um governo envolvido em um escândalo de corrupção.
Apesar dessa turbulência, o mercado financeiro se recuperou assim que ficou claro que Temer não sofreria um impeachment, e o ano de 2019 terminou com uma alta no Índice Bovespa.
Prisões
editarEm 6 de setembro de 2017, veio a público um diálogo entre Joesley Batista e Ricardo Saud, gravado poucos dias após a gravação com Michel Temer e entregue, provavelmente por engano, junto com o material da delação premiada. Nesse diálogo, os dois debatem a delação premiada com termos chulos, sugerindo que então Procurador da República Marcello Miller tinha um acesso privilegiado ao então Procurador-Geral da República Rodrigo Janot e conseguiria para eles todos os benefícios possíveis na sua colaboração. "nós dois temos que operar o Marcello direitinho para chegar no Janot e pá!" foi uma das frases que causou comoção. [23]
Sob suspeita de que tinham omitido crimes no material entregue com a delação, o Procurador-Geral da República pediu a suspensão da imunidade prometida no acordo de delação premiada. O pedido foi aceito pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin. Em 10 de setembro de 2017 Joesley Batista e Ricardo Saud se entregaram e foram presos.[24]. Também foi pedida a prisão temporária do ex-procurador Marcello Miller, mas ela foi negada.
Em 13 de setembro de 2017, Joesley Batista e o seu irmão Wesley Batista tiveram a prisão preventiva decretada pela 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo por outras acusações: o uso de informações privilegiadas para lucrar no mercado financeiro entre abril e 17 maio de 2017, data de divulgação de informações relacionadas ao acordo de colaboração premiada firmado entre executivos da J&F e a Procuradoria Geral da República.[25]
Como era previsível que o mercado sofresse uma grande oscilação depois das divulgações envolvendo o então Presidente Michel Temer, a compra de dólar no mercado futuro por parte da JBS no período em que o ocorreu o "Joesley Day" levantou suspeitas de que os diretores da empresa se valeram disso para lucrar. Essas mesmas operações foram investigadas também por outros órgãos como a Comissão de Valores Mobiliários, que instaurou ao menos três processos para investigar descumprimento das normas do mercado de capitais brasileiro.[26]
Após 9 meses dessa prisão, tendo em vista que "o risco da reiteração delitiva e de interferência na instrução criminal se enfraqueceu", a prisão preventiva no caso de insider trading foi substituída pelas seguintes medidas cautelares: proibição dos irmãos de ocuparem cargos nas empresas envolvidas, impedimento de operar no mercado financeiro, proibição de contato com os demais réus, uso de tornozeleiras eletrônicas, proibição de sair do país e obrigação de comparecimento periódico em juízo. A decisão foi tomada por apertada maioria (3 ministros a 2) pela 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça. [27]
Wesley Batista foi liberado da prisão nessa oportunidade, mas seu irmão Joesley Batista continuava preso em razão da prisão determinada pelo ministro Edson Fachin. Ele só conseguiu sair da carceragem da Policia Federal em São Paulo em 9 de março de 2018, por ordem do juiz Marcus Vinícius Reis Bastos, da 12ª Vara Federal do Distrito Federal, por "excesso de prazo" tendo em vista que àquela época já não poderia mais interferir nas investigações. [28]
No dia 9 de novembro de 2018, voltou a ser preso, agora na Operação Capitu, um desdobramento da Operação Lava Jato que teve como base a delação premiada de Lúcio Funaro. Joesley estaria envolvido em um esquema de corrupção no Ministério da Agricultura entre 2014 e 2015.[29]
- ↑ Forbes. «Joesley Batista». Consultado em 8 de setembro de 2022
- ↑ «60 Mais Poderosos do País». Arquivado do original em 23 de agosto de 2013
- ↑ Darlan Alvarenga e Marina Gazzoni (26 de maio de 2017). «Joesley Bastista renuncia à presidência do conselho de administração da JBS». G1. Globo.com. Consultado em 10 de setembro de 2017
- ↑ «70 maiores bilionários do Brasil em 2016». Consultado em 29 de agosto de 2016
- ↑ «Joesley Batista ficará afastado do conselho e da direção da J&F por cinco anos - Economia». Arquivado do original em 7 de junho de 2017
- ↑ a b c Quem é Joesley Batista, o empresário que entregou Temer
- ↑ a b c Joesley Batista, o homem que comprou o Brasil
- ↑ LANDIM, Raquel. Why Not. 1ª edição digital - Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019, posição 1467
- ↑ LANDIM, Raquel. Why Not. 1ª edição digital - Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019, posições 1483 a 1488
- ↑ LANDIM, Raquel. Why Not. 1ª edição digital - Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019, posição 173
- ↑ LANDIM, Raquel. Why Not. 1ª edição digital - Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019, posição 1497
- ↑ PF faz buscas na casa de Joesley Batista, da Friboi
- ↑ Cinco Operações em que a JBS é investigada
- ↑ LANDIM, Raquel. Why Not. 1ª edição digital - Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019, posição 618 a 628
- ↑ Dono da JBS gravou Temer dando aval para comprar silêncio de Cunha
- ↑ «Veja o vídeo com a sequência em que deputado Rocha Loures recebe mala com dinheiro da JBS». G1. Consultado em 1 de janeiro de 2022
- ↑ Talita Bedinelli. «Em diálogo gravado, Aécio pede 2 milhões de reais à JBS». El País. Consultado em 1 de janeiro de 2022
- ↑ Ranier Bragon. «Lula e Dilma receberam US$ 80 milhões no exterior, diz Joesley». Folha de S.Paulo. Uol. Consultado em 21 de maio de 2017
- ↑ Leandro Prazeres. «Delação de Joesley: contas de Lula e Dilma no exterior são "incomprováveis", diz procurador». Uol. Consultado em 1 de janeiro de 2022
- ↑ Iate de Joesley avaliado em US$ 10 milhões deixou o Brasil dias antes de o empresário ir para Nova York
- ↑ Esposa de Joesley, jornalista Ticiana Villas Boas pede afastamento do SBT
- ↑ Lucas Bassotto. «Joesley Day, um dos dias mais loucos da história do Bovespa». CoinTimes. Consultado em 1 de janeiro de 2021
- ↑ «Leia e ouça trechos da gravação entre Joesley Batista e Ricardo Saud; delação da JBS está sob investigação». G1. 6 de setembro de 2017. Consultado em 1 de janeiro de 2022
- ↑ «URGENTE: Joesley e Ricardo Saud se entregam à PF em SP». VEJA. Abril. 10 de setembro de 2017. Consultado em 10 de setembro de 2017
- ↑ «PF prende Wesley Batista, da J&F, em SP, e cumpre nova prisão contra Joesley». 13 de setembro de 2017. Consultado em 13 de setembro de 2017
- ↑ «CVM acusa Joesley Batista de práticas irregulares do Banco Original»
- ↑ «Sexta Turma substitui prisão preventiva dos irmãos Batista por outras medidas cautelares». 20 de fevereiro de 2018. Consultado em 1 de janeiro de 2022
- ↑ «Juiz do DF manda soltar Joesley Batista; empresário deverá entregar passaporte». G1. Globo. 9 de março de 2018. Consultado em 12 de julho de 2018
- ↑ Fernando Zuba (9 de novembro de 2018). «PF prende vice-governador de MG, Joesley Batista e Ricardo Saud em investigação sobre suposto esquema na Agricultura». G1. Globo.com. Consultado em 9 de novembro de 2018
Ligações externas
editar- Último Segundo: 60 Mais Poderosos do País
- Why Not LANDIM, Raquel - 2019 ISBN 9788551004401