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Mapudungun

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Mapuche

Mapudungun, mapuchedungun

Falado(a) em: Chile e Argentina
Região: Chile: Regiões da Araucanía, Los Lagos, do Biobío e Região Metropolitana de Santiago
Argentina: Província de Neuquén, Provincia de Río Negro e o Chubut
Total de falantes: 440.000
Família: Americana
 Mapuche
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: arn
ISO 639-3: arn

A língua mapuche ou mapudungu (literalmente, a fala da terra) é o idioma dos mapuches, um povo ameríndio que habita milenarmente certas regiões do Chile e da Argentina. A identidade mapuche possui cerca de 440.000 falantes com diversos graus de competência linguística. Ela incorporou palavras do espanhol e do quíchua (outro idioma autóctone) e, por sua vez, introduziu no léxico do espanhol uma grande quantidade de palavras relacionadas com a flora da região habitada pelos mapuches.

Um idioma ainda classificado insatisfatoriamente: Alguns autores consideram-na uma língua isolada.[1] Outros incluem-na no grupo das línguas andinas (Greenberg 1987, Key 1978), enquanto Stark (1970) e Hamp (1971) defendem estar relacionada com a língua maia. Croese (1989, 1991) avançou a hipótese de um parentesco com o aruaque.

Também não há concordância quanto ao número de falantes, sendo frequente as estimativas dependerem da luta política entre esta minoria étnica e os governos chileno e argentino. Um estudo mapuche de 2008 aponta para 700.000 falantes.[2] Outros autores estimam um total de 240.000, sendo 200.000 no Vale Central do Chile e 40.000 na Argentina.[3]

O mapudungun carece de uma efectiva protecção, apesar do empenho do governo chileno (depois de séculos de repressão) em melhorar a situação e promover o efectivo acesso à educação nas áreas mapuches do Chile meridional. Cabe referir ainda a presente luta pela adopção de um alfabeto, sendo diversas as propostas sobre a mesa.

Denominações

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Seus falantes denominam o idioma mapudungun ("a fala da terra"), mapuchedungun ("a fala dos mapuches"), ou chedungun ("a fala da gente"), embora os cronistas coloniais o tenham denominado "araucano", "língua do Chile" e também chilidungu, que se supõe seja o mesmo. O termo "araucano" foi criado durante a Conquista do Chile para denominar o povo e sua língua, e foi utilizado habitualmente até o século XX, não obstante o desagrado que provoca entre os mapuches.[4] No livro "Mapudungun. El Habla Mapuche", Fernando Zúñiga comenta em uma nota de rodapé:

"A origem da antiga denominação araucanos— hoje evitada tanto nos círculos acadêmicos como pelos mapuches – ainda é motivo de controvérsia." - Zúñiga, 2006, pag. 29

Isso motivou um abandono gradual do uso do termo "araucano" nos lugares onde eles habitam, e o crescente uso de "língua mapuche" ou "mapudungun".

Fonologia e fonética

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Em mapudungun existem 6 vogais, 20 consoantes e 2 semivogais. O acento não possui valor fonológico.

Anterior Central Posterior
Fechada i ɨ u
Média e o
Aberta a
  • As vogais a, e, i, o e u pronunciam-se como no português do Brasil (á, é, ó).
  • A vogal ɨ pronuncia-se como e em posição átona no português europeu, como em pode.
bilabial labiodental interdental dento-alveolar pós-alveolar palatal retroflexa velar
oclusiva p t k
africada ʧ
fricativa f θ s ʃ ɣ
líquida l ʎ ɹ
nasal m n ɲ ŋ
aproximante w j

O acento não possui valor fonológico e pode variar de acordo com as palavras vizinhas, a ênfase, a presença de ditongos, entre outros factores.

Nos dissílabos, a sílaba tónica é a última quando ambas as sílabas são abertas (terminadas em vogal) ou fechadas (terminadas em consoante). Quando só uma das duas é fechada, será essa a tónica.

  • Exemplos: ruka "casa", chiñ "nós", narki "gato", yen "lua".

Nas palavras com mais de duas sílabas, se as duas últimas forem abertas ou fechadas, a tónica será a penúltima. Caso uma das duas seja fechada, será essa a tónica.

  • Exemplos:pichiwentru "menino", warangka "mil", mapudungun "língua mapuche".

A pronúncia das consoantes varia conforme o estado de espírito do falante, e considera-se que existem três "entoações": afectuosa, neutra e depreciativa. No entanto, não é possível fazer-se uma caracterização exacta da variação das consoantes pois é um fenómeno muito variável de pessoa para pessoa. Além disso, cada pessoa pode também variar a sua pronúncia, de acordo com a situação.

Exemplo:

Afectuoso: Feychi kushe ("Essa velhota")

Neutro: Feychi kuse ("Essa senhora idosa")

Depreciativo: Feyti kude ("Essa velha")

Os mapuches não possuíam escrita aquando da chegada dos conquistadores espanhóis, pelo que ao escrevê-lo se usa o alfabeto latino. Os estudos de Félix José de Augusta, Moesbach e Rodolfo Lenz levaram à criação de novos sistemas menos influenciados pelo espanhol.

Presentemente, existem sete ou oito sistemas diferentes, dos quais os mais aceites são o Alfabeto Unificado e o Grafemário Raguileo. O primeiro é um alfabeto latino com dígrafos e letras especiais (ch, l, n, ñ, ng, tr, t, ü) que foi elaborado pela Sociedade Chilena de Lingüística em 1988; assim, o Alfabeto Unificado do mapudungun é constituído pelas 27 letras seguintes: a, ch, d, e, f, g, i, k, l, l, ll, m, n, n, ñ, ng, o, p, r, s, t, t, tr, u, ü, w, y.

Quanto ao Grafemário de Anselmo Raguileo, é um alfabeto latino formado por 26 letras, em que cada som do idioma é representado por uma só letra: a, c, z, e, f, q, i, k, l, b, j, m, n, h, ñ, g, o, p, r, s, t, x, u, v, w, y.

O governo chileno está a promover o uso de um sistema que combina características dos dois anteriores, criado pela Corporación Nacional de Desarrollo Indígena (CONADI), Corporação Nacional de Desenvolvimento Indígena. É denominado Azümchefe (pessoa que ensina) e consiste em 28 letras: a, ch, z, e, f, q, i, k, l, lh, ll, m, n, nh, ñ, g, o, p, r, s, t, tx, u, ü, w, y, sh, t'. A versão do Windows XP em mapudungun,[5] lançada a 30 de Outubro de 2006, usa este sistema.[6]

AFI Unificado Raguileo Azümchefe Exemplo Tradução Pronúncia aproximada
/a/ a a a malal curral Como o a em água.
/tʃ/ ch c ch challwan pescar Como o ch do inglês child (africada pós-alveolar surda).
/θ/ d z z dungun língua Como o th do inglês thing.
/e/ e e e epe quase Como o e em essa.
/f/ f f f afün terminar Como o f em fada. Em alguns dialectos, em final de sílaba pronuncia-se como o v de vale.
/ɣ/ g q q rag greda Semelhante ao g "brando" de água (fricativa velar sonora).
/i/ i i i in comer Como o i em isso.
/k/ k k k ko água Como o c em cada.
/l/ l l l luan guanaco Como o l em lado.
/l̪/ l b lh lafken mar, lago, oeste Semelhante a l, mas com a ponta da língua entre os dentes.
/ʎ/ ll j ll llangkaforo ombro Como lh em palha.
/m/ m m m mañke condor Como o m em mãe.
/n/ n n n nag abaixo Como o n em nessa.
/n̪/ n h nh namün Semelhante a n, mas com a ponta da língua entre os dentes.
/ɲ/ ñ ñ ñ ñuke mãe Como o nh em banho.
/ŋ/ ng g g nge olho Como o ng do inglês morning.
/o/ o o o oküllün debulhar Como o o em pode.
/p/ p p p poñü batata Como o p em pode.
/ɺ/ r r r rüngo farinha Semelhante ao r do inglês rat.
/s/ s s s sumel sapato Como s em sapato.
[ʃ] sh sh sh shuka casita (afectuoso) Como ch em chá (variante afectuosa de s).
/t/ t t t tonton traça Como o t em tudo.
[t'] - - t' wet'wet' louco (depreciativo) Como o t do inglês tea (variante depreciativa de d).
/t̪/ t - - antü sol Semelhante a t mas com a ponta da língua entre os dentes.
/tɺ/ tr x tx trawa pele Semelhante ao tr do inglês train.
/u/ u u u umawtun dormir Como o u em tudo.
/ɨ/ ü v ü wünen primeiro Pronuncia-se colocando a língua como para se dizer u e com os lábios como quando se pronuncia i.
/w/ w w w, u willi, chaw sul, pai Como a semivogal u em causa e quase.
/j/ y y y, i yeku, papay alcatraz, senhorita Como a semivogal i em maia ou rei.

O mapudungun é uma língua polissintética. Quer isto dizer que cada palavra incorpora vários morfemas de tal forma que uma única palavra pode ser traduzida em português por uma frase completa.

Exemplo:

Palavra: Trarimansunparkelayayengu

Componentes: trari–mansun–pa–rke–la–ya–y–engu

(cingir–boi–aqui–SURPRESA–NEGAÇÃO–FUTURO–MODO REAL–3ª PESS. DUAL)

Tradução: Eles os dois não emparelharão os bois aqui!

Género e número

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O género não é indicado gramaticalmente, mas sim lexicalmente: entru pichiche ("homem–menino") e domo pichiche ("fêmea-menino"); alka achawall ("macho-galinha") e domo achawall ("fêmea-galinha").

Os substantivos estão divididos em duas classes: animados e inanimados. Tal reflecte-se, por exemplo, no morfema indicativo de plural: pu para substantivos animados e yuka para os inanimados. Chi (ou ti) é o artigo definido animado. Assim: chi wentru, "o homem" e chi pu wentru, "os homens".

Pronomes pessoais

Há nove pronomes pessoais, se bem que nos dialectos do Sul o sistema se reduza a seis, devido à inexistência do dual.

Pessoa Número
Singular Dual Plural
Primeira
iñche iñchiw iñchiñ
Segunda eymi eymu eymün
Terceira fey fey engu fey engün

Existe um complexo sistema de morfemas para indicar o agente e o paciente de uma acção. Por exemplo: -fiñ-, "eu para ele", -enew-, "ele para mim".

Pronomes interrogativos

Alguns pronomes interrogativos:iney "quem", chem "o quê"', chew "onde", chumül "quando", chumngelu, "porquê", tuntem "quanto(s)".

Os verbos podem ser transitivos ou intransitivos, neutros ou impessoais e conjugam-se de acordo com pessoa (primeira, segunda, terceira), número (singular, dual, plural), voz (activa e passiva) e modo: indicativo, imperativo, optativo e conjuntivo. No indicativo distinguem-se os seguintes tempos: presente, imperfeito, futuro e perfeito. Os verbos incluem informação sobre o local da acção, as emoções do falante, bem como o seu grau de certeza sobre as suas afirmações.

As palavras compostas são muito frequente. Exemplos: küdaw "trabalho", küdaw.fe "trabalhador", küdaw.we "local de trabalho".

A numeração é extremamente regular, só podendo ser comparada ao chinês e ao uolofe, ou a línguas artificiais, como o esperanto. 1 kiñe, 2 epu, 3 küla, 4 meli, 5 kechu, 6 kayu, 7 regle, 8 pura, 9 aylla, 10 mari; 20 epu mari, 30 küla mari, 110 (kiñe) pataka mari, 1000, warangka. Tanto pataka como warangka provêm do quíchua (pachak, waranqa).

Amostra de texto

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Kom pu mogence kisuzuam mvlekey, kom cegeygvn, logkogeygvn ka piwkegeygvn, nieygvn kimvn fey mew mvley tañi yamniewael ka epuñpvle kejuwael egvn.

Português

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

(Artigo 1 da Declaração Universal dos Dreitos Humanos)

Referências
  1. Zúñiga, Fernando. Mapudungun. El habla mapuche ("Los mapuches y su lengua".Santiago: Centro de Estudios Públicos, 2006. 402 p. ISBN 956-7015-40-6
  2. (em castelhano) Berretta, Cañumil, Cañumil (2008) Diccionario Castellano-Mapuche. ISBN 978-987-05-4139-4
  3. (em castelhano) Zúñiga, Fernando (2007) Mapudunguwelaymi am? '¿Acaso ya no hablas mapudungun?' Acerca del estado actual de la lengua mapuche. Estudios Públicos 105: 9-24.
  4. Bravo, Patricia. ¿La pobreza es una infiltrada? Pregunta alcalde mapuche de Tirúa. Revista Punto Final, 1999. Visitado em 16 de maio de 2007
  5. Microsoft Chile - Windows en Mapuzugun[ligação inativa]
  6. «Microsoft, Centro de descarga - Windows® XP Mapudungun Peniewün kütxün». Consultado em 26 de abril de 2009. Arquivado do original em 22 de maio de 2007 

Ligações externas

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