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Batalha de Huế

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Batalha de Huế
Ofensiva do Tet, Guerra do Vietnã

Um marine americano nas ruas de Hué
Data 30 de janeiro3 de março de 1968
Local Hué, Vietnã do Sul
Desfecho Vitória de sul-vietnamitas
e norte-americanos
Beligerantes
Vietnã do Sul
Estados Unidos Estados Unidos
Vietnã do Norte
Vietcongs
Comandantes
Ngô Quang Trưởng
Foster LaHue
Tran Van Quang
Forças
Forças terrestres:
Vietnã do Sul:
11 batalhões

Exército EUA:
4 batalhões
Marines:
3 batalhões
Forças terrestres:
Vietnã do Norte e Vietcong:
10 a 12 mil soldados
10 batalhões
Baixas
Vietnã do Sul:
452 mortos; 2 123 feridos
EUA:
216 mortos; 1 584 feridos

Total:
668 mortos, 3 707 feridos[1]
Vietnã do Norte e Vietcong:
5 113 mortos na cidade[2]
~3 000 na região em volta[3]
Civis:
844 mortos e 1 900 feridos durante a batalha; 4 856 executados durante a ocupação e a retirada dos norte-vietnamitas[4]

Batalha de Huế foi uma das mais sangrentas e longas batalhas da Guerra do Vietnã, ocorrida entre janeiro e março de 1968, durante o ataque geral realizado pelas forças do exército do Vietnã do Norte e da guerrilha vietcong contra as forças sul-vietnamitas e norte-americanas em várias regiões do Vietnã do Sul, parte da chamada Ofensiva do Tet.

A batalha pela posse da ex-capital imperial do Vietnã durou mais de um mês e colocou frente a frente três batalhões do US Marine Corps, os fuzileiros navais norte-americanos, num total de 2 500 homens, apoiados por tropas do Vietnã do Sul, contra mais de 10 mil soldados do exército regular norte-vietnamita e guerrilheiros da Frente Nacional para a Libertação do Vietnã (FNL), conhecidos com vietcong.

A luta terminou com a vitória e a ocupação da cidade destruída pelos norte-americanos e sul-vietnamitas, a um custo de cerca de 12 300 baixas de ambos os lados e mais de 5 600 vítimas civis, mortos durante a batalha ou executados pelos invasores norte-vietnamitas, antes do início da contra-ofensiva aliada ou durante a retirada, após a derrota.

Com o início da Ofensiva do Tet, em 30 de janeiro de 1968, o ano novo lunar vietnamita, as tropas norte-americanas já se encontravam há três anos lutando em solo do Vietnã. A estrada Highway One passava por Hué e sobre o rio Hương – que cruza a cidade dividindo-a em área norte e sul – criando uma importante linha de suprimentos desde Da Nang, na costa, até à Zona Desmilitarizada do Vietname, para as forças aliadas. Hué também era uma base para barcos de suprimentos da Marinha dos Estados Unidos.

A cidade, ex-capital do Vietnã imperial, considerada seu valor e sua importância estratégica no Vietnã do Sul – a 75 km da Zona Desmilitarizada – deveria, por decisão do comando norte-americano, ser fortificada, bem defendida e preparada para conter a ofensiva comunista do norte. Entretanto, naquele momento, ela se encontrava pouco defendida e mal equipada militarmente, porque os norte-americanos esperavam que vietcongs e norte-vietnamitas respeitassem a trégua do Tet.

Entretanto, durante a trégua, que é celebrada como feriado nacional no Vietnã, as forças nortistas lançaram um grande e diversificado ataque sobre o Vietnã do Sul, contra centenas de alvos militares e centros populacionais através de todo o país, entre eles a cidade de Hué.

Fuzileiros americanos lutando em Huê, na "Casa da Viúva", em fevereiro de 1968

Nas primeiras horas da manhã de 31 de janeiro de 1968, tropas norte-vietnamitas e vietcongs, no total aproximado de uma divisão, atacaram o aeroporto de Tay Loc e o quartel-general da 1ª Divisão do Exército da República do Vietnã do Sul no local chamado de A Cidadela, além de penetrarem na Cidade Nova, a parte de Hué ao sul do rio Hương . Ao mesmo tempo, outras unidades comunistas atacaram ao norte, na margem oeste do rio, em direção ao complexo de Mang Cu, do aeroporto e do palácio imperial. Simultaneamente, outro regimento atacava o quartel-general da assistência militar norte-americana em Hué, na parte sul da cidade.

Uma equipe de sabotadores, composta de quatro homens vestindo uniformes do exército do Vietnã do Sul, infiltrou-se no portão oeste da cidade, matando as sentinelas, e abrindo os portões da cidadela para a invasão do 6º regimento norte-vietnamita. O objetivo geral do ataque era ‘libertar’ toda a cidade e colocar os revoltosos comunistas de Hué no poder.

Enquanto a luta continuava dura no aeroporto até o amanhecer, quando os defensores abandonaram o local, os invasores da cidade imperial tomaram a parte norte do complexo e o quartel general da divisão sul-vietnamita, erguendo a bandeira vietcong na torre da Cidadela as 08h00 da manhã. Fora da cidade, três batalhões de marines norte-americanos protegiam a base aérea de Phu Bai, 16 km a sudeste de Hué, a estrada Highway One e as entradas da parte oeste, comandadas pelo general Foster LaHue, um veterano da Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Coreia.

Atendendo aos pedidos de reforço do general Truong, comandante das forças enclausuradas na Cidadela, no dia 1 de fevereiro tropas sul-vietnamitas aquarteladas na base da divisão, 17 km a norte de Hué, dirigiram-se em comboio para a cidade, mas foram obrigadas a parar e se entrincheirar 400 m antes da entrada dos portões, pela resistência dos ocupantes norte-vietnamitas. Apenas no dia seguinte, um novo regimento sul-vietnamita, chegando em reforço, conseguiu penetrar na cidadela ocupada, tendo pesadas baixas de 131 homens e 12 carros de combate.

Outros três batalhões do 3º regimento, que tentavam avançar para Hué pelo oeste, foram detidos na margem do rio pelos vietcongs e obrigados a pernoitar fora dos portões da cidade. Dois deles sofreram uma tentativa de cerco de forças inimigas que chegavam pelo sudeste, sendo obrigados a recuar para escapar à armadilha, mas um dos batalhões permaneceu cercado às portas de Hué por vários dias. No sul da cidade, uma coluna de tanques tentou atravessar a ponte que dava à Cidade Nova, mas recuou quando um foguete antitanque comunista destruiu um dos tanques, matando o comandante da coluna. Diante da situação, o comando sul-vietnamita solicitou o apoio dos marines em Phu Bai, que enviaram um batalhão à cidade.

Na mesma madrugada em que as forças norte-vietnamitas atacaram Hué, foguetes e granadas de morteiros também começaram a cair na pista do aeroporto de Phu Bai, defendida pelos americanos, e unidades de infantaria do exército norte-vietnamita atacaram pelotões de fuzileiros no rio Truoi e no setor de Phu Loc. Contra-atacadas pelos fuzileiros, estas forças resistiram e colocaram os marines em posição defensiva ao longo do rio, após uma de suas companhias de infantaria ter sido destacada para Hué, em reforço aos sul-vietnamitas lá sitiados.

Marines feridos em Hué

Enquanto a luta continuava no setor do Truoi, o 1º batalhão de marines se dirigia a Hué, sem que o comando americano tivesse uma posição clara do que acontecia na cidade propriamente dita, defendida pelas tropas sul-vietnamitas. A situação percebida era apenas que as forças do general Truong e o complexo de assistência norte-americana se achavam sob ataque comunista.

À medida que os marines se aproximavam dos subúrbios sul da cidade, passaram a ser atacados constantemente por fogo de franco-atiradores. Numa vila próxima foram obrigados a revistar casa por casa à procura de inimigos e em outras o comboio foi obrigado a enfrentar tiroteios nas ruas antes de prosseguir para Hué. Apenas no meio da tarde o reforço de fuzileiros conseguiu chegar ao complexo americano, quando as forças inimigas recuaram para os arredores. Tentando cruzar a ponte sobre o rio Hương , a coluna de marines, reforçada de três tanques M48 muito pesados para a estrutura da ponte e alguns tanques leves sul-vietnamitas, cujos tripulantes se recusaram a prosseguir pela escassa blindagem, foi recebida a fogo de metralhadora que matou e feriu vários fuzileiros, preferindo se retirar.

A retirada foi difícil de ser feita, porque os norte-vietnamitas, bem entrincheirados nos edifícios de Hué próximos à ponte e atirando praticamente de cada um deles, feriram e mataram diversos fuzileiros, que usaram os veículos civis abandonados como ambulância para seus feridos. No começo da noite, os marines enviados a Hué viram-se resignados a uma posição defensiva apenas ao redor do complexo de assistência norte-americana, no sul da cidade. No fim das operações do dia, as baixas entre os marines eram contadas em 10 mortos e 56 feridos e o comando americano no Vietnã ainda tinha pouca noção da situação em Hué.[5]

Contra-ataque e batalha pela Cidadela

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No dia seguinte, as tropas americanas tentaram um ataque as partir de sua base no complexo americano mas foram obrigadas a recuar novamente após a destruição de um de seus tanques e pelo fogo pesado de franco-atiradores entrincheirados. Os sul-vietnamitas, entretanto, lograram um maior sucesso, conseguindo retomar o aeroporto de Tay Loc, apesar de continuarem sem conseguir entrar na cidade, pela resistência dos ocupantes em seus portões. Gigantescos helicópteros americanos CH-46 Sea Knight, vindos de Dong Ha, despejaram reforços de tropas na cidadela, mas foram obrigados a abandonar o transporte de homens devido ao mau tempo e falta de visibilidade.

Reforços americanos e sul-vietnamitas começaram então a chegar a Hué, tentando cortar as linhas de suprimento norte-vietnamita ao norte, e a batalha se tornou uma guerra urbana por mais de um mês. Durante três semanas, as tropas aliadas enfrentaram grande resistência em seu caminho por dentro da cidade; atuando juntos, batalhões de fuzileiros e dos exércitos dos EUA e do Vietnã do Sul, entraram em combate quarteirão por quarteirão da cidade imperial ocupada, aos poucos, causando o recuo dos comunistas.

Fuzileiros americanos lutando nos arredores da cidadela.

Muitos dos marines e dos soldados do exército não tinham experiência em guerra urbana, nem em combate corpo-a-corpo e a batalha foi dura e custosa para muitos deles. Devido à situação cultural e religiosa de Hué, os aliados receberam ordens de não bombardear a cidade, com aviação ou artilharia, para não destruir suas estruturas históricas. Devido à estação das monções, o suporte aéreo também tinha se tornado virtualmente impossível sobre Hué, mas com a crescente intensidade da batalha, a política de não-destruição foi revogada. Os defensores comunistas usavam constantemente de franco-atiradores escondidos em prédios ou buracos no solo e instalaram dezenas de ninhos de metralhadoras pelas ruas e construções. Faziam contra-ataques locais noturnos e mataram diversos soldados com armadilhas de explosivos, escondidas inclusive embaixo de cadáveres.

No fim de fevereiro, a luta havia se resumido à posse da Cidadela, bombardeada por jatos A-4 Skyhawks com bombas de napalm, e do palácio imperial em seu interior. Tomando a torre principal da Cidadela após sangrento combate, marines hastearam a bandeira norte-americana no lugar, sendo obrigados a recolhê-la logo após por ordens superiores, já que a lei sul-vietnamita proibia que qualquer bandeira estrangeira fosse hasteada em áreas públicas no Vietnã do Sul sem a correspondente bandeira sul-vietnamita ao lado. Na ocasião, os marines se recusaram a cumprir a lei e a mantiveram hasteada ameaçando atirar em oficiais do exército que os ordenaram que a recolhesse, até serem obrigados a fazê-lo por ordem do comando dos fuzileiros.

Em 24 de fevereiro de 1968, o palácio imperial no interior e no centro da Cidadela foi finalmente tomado aos norte-vietnamitas e a companhia Pantera Negra da 1ª divisão do exército da República do Vietnã dali retirou a bandeira vietcong azul, vermelha e com uma estrela dourada em seu centro, que ali flamejava desde 31 de janeiro. Alguns dias depois, os norte-vietnamitas abandonaram completamente a cidade.[6]

Consequências

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Refugiados vietnamitas deixando a cidade no começo da batalha

As forças comunistas do norte sofreram pesadas baixas na batalha de Hué. Os sul-vietnamitas afirmam ter matado cerca de 3 mil deles,[4] enquanto os norte-americanos contam 1 500 mortes infringidas ao inimigo; cerca de 3 mil foram também mortos fora da cidade. Também houve um grande número de mortes entre civis, devido aos massacres cometidos pelos soldados norte-vietnamitas entre a população da cidade, durante o mês em que a ocuparam. Após a batalha, os soldados aliados encontraram sepulturas coletivas dentro da cidade e em seus limites, contendo aproximadamente 2 800 corpos de moradores assassinados, por serem considerados uma ameaça à vitória comunista. Algumas destas vítimas também foram assassinadas por soldados sul-vietnamitas por, segundo eles, terem colaborado com o inimigo.

Militarmente, a batalha de Hué foi uma vitória tanto para os Estados Unidos como para o Vietnã do Sul. Cerca de 12 mil inimigos, o efetivo de uma divisão, foi expulsa de Hué após invadi-la, sofrendo mais de 5 mil mortes em um mês de combates. Entretanto, para a opinião pública norte-americana, ela foi o começo do fim. Dali em diante, o povo americano passou a rejeitar a ideia de enviar seus jovens e seus homens para morrer no Vietnã, e durante os cinco anos seguintes o envolvimento dos EUA na guerra foi gradualmente diminuindo, até a saída final de todas as tropas americanas do país em 1973.

Reportagens contemporâneas on-line (em inglês)

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Referências
  1. The History Place - Vietnam War 1965-1968
  2. Shelby L. Stanton book: Vietnam Order of Battle. 2006. Page 11. ISBN 0-8117-0071-2.
  3. Willbanks, James H. (2 de outubro de 2002). «Urban Operations: An Historical Casebook». Combat Studies, Institute Command & General Staff College, Fort Leavenworth, Kansas: The Battle for Hue, 1968. Consultado em 26 de agosto de 2007 
  4. a b Hue Massacre , Tet 1968 (An Excerpt from the Viet Cong Strategy of Terror, by Mr. Douglas Pike, p. 23-39)
  5. Schulimson, Jack; LtCol. Leonard Blasiol, Charles R. Smith, and Capt. David A. Dawson (1997). U.S. Marines in Vietnam: 1968, the Defining Year. [S.l.]: History and Museums Division, USMC. ISBN 0-16-049125-8  pp. 172
  6. «Fight for a Citadel». Time. 1 de março de 1968 

Ligações externas

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